Apesar de invasão, Diálogos Saúde e Migração tem sua primeira edição

A série de debates Diálogos Saúde e Migração, organizada pelo Observatório Saúde e Migração, teve sua primeira edição ontem. Com o tema "Covid-19, migrantes e refugiados(as)". Participaram da mesa pesquisadores do OSM que conduzem pesquisas sobre os impactos da pandemia sobre as comunidades migrantes e refugiadas ou atuam profissionalmente com populações migrantes, com mediação de Nivaldo Carneiro Júnior, que, além de integrar o Conselho Científico do OSM, é docente na Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo.

Em um primeiro momento, o evento foi invadido, mas a situação foi rapidamente contornada e o debate pôde prosseguir sem maiores problemas. 

Alexandre Branco-Pereira (UFSCar) apresentou sua pesquisa de doutorado, que chamou de uma etnografia do esquecimento e dos esquecidos. Acompanhando os desdobramentos da pandemia junto a populações migrantes majoritariamente indígenas e negras desde sua eclosão, Alexandre expôs como a postura do Estado diante destas populações tem sido a de produzir um esquecimento forçado de seus sofrimentos por meio de seu apagamento ativo no processo de construção de políticas públicas de resposta à pandemia, negando sistematicamente a coleta de dados sobre esta população no sistema de saúde.  Os efeitos da negligência como projeto estatal foram sentidos no acesso à saúde e à vacina contra a Covid-19 por essas populações, frequentemente desincentivadas a buscarem serviços de saúde por medo de sinalizarem sua existência ao Estado e serem deportadas. O pesquisador também realizou um panorama sobre os processos de lutas e mobilizações de migrantes cujo objetivo foi combater este apagamento e negar a condição de esquecidos pelo Estado. 

Patricia Lewis Carpio (NAMIR-UFBA) trouxe um esboço simultaneamente amplo e pormenorizado das agruras vividas pela população migrante em todo o mundo durante a pandemia. Pontuando que a pandemia de Covid-19 agravou vulnerabilidades já existentes, a pesquisadora ressaltou a exploração de trabalhadores(as) imigrantes durante a pandemia, que frequentemente deixaram de receber seus salários, foram forçados a assinar acordos de redução salarial, sendo os primeiros a serem demitidos e excluídos da possibilidade de requerer benefícios de assistência social. Além disso, Patrícia frisou que foi frequentemente negado a migrantes o acesso à atenção primária de saúde, nível de atenção à saúde responsável pelas campanhas de vacinação, ressaltando a importância da garantia da saúde como um direito humano.

Já João Roberto Cavalcante (IMS-UERJ) apresentou um panorama sobre a saúde das populações de migrantes forçados ao deslocamento, apresentando um perfil das doenças que mais frequentemente acometem essas populações, e seus perfis de vulnerabilidade. João Roberto também apresentou dados de sua pesquisa em parceria com a Caritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro, com informações sobre os países de origem e as rotas migratórias utilizadas por refugiados em 2016 e 2017. Sobre a Covid-19, o pesquisador apontou para seus impactos sobre as migrações forçadas, com fechamentos seletivos de fronteiras e a associação dos movimentos migratórios e riscos epidemiológicos. Além disso, João apresentou dados inéditos sobre mortes por Covid-19 no Brasil em 2020 e 2021, obtidos pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do DATASUS, fazendo a ressalva de que este retrato pode ser enviesado em virtude da subnotificação decorrente de vários fatores.

É possível assistir ao debate na íntegra por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=dm63PX3zIq0

A próxima edição do Diálogos Saúde e Migração irá acontecer no dia 27/04, às 18h30, e terá como tema "Invisibilidade da população migrante nas bases de dados de saúde no Brasil". Participarão da mesa as(os) pesquisadoras(es) Nayara Belle (UnB), Vitor Jasper (UFRJ) e James Lalane (USP).